05 out A Hipnose na Atualidade
O Conselho Federal de Medicina (CFM), possibilitou no parecer 42/99, a criação de cursos de pós-graduação em hipnose, com isso, estar-se-á abrindo novos campos na medicina como em outras áreas de saúde com relação àquela. À especialidade em Psiquiatria dar-se-á o nome de Hipniatria, em Odontologia Hipnodontia e em Psicologia de Hipnoterapia.
O que é a Hipnose? Antes de responder a esta pergunta, faz-se necessário definir transe, o qual é um estado altamente focalizado de atenção. Portanto, dizemos estar em transe aquela pessoa que tem sua atividade psíquica voltada para uma direção específica, como por exemplo: estar com a atenção absorta em um filme, uma história, uma música e assim por diante; estes tendem a serem transes leves, mas o que acontece quando se potencializa este processo? Em um sonho, pensamos e sentimos de acordo com a realidade deste, o mesmo se processa em um transe, que neste caso pode ser diferenciado do sonho devido ao fato de se ter uma direção do conteúdo colocada pelo próprio paciente e/ou pelo hipnotista.
A Hipnose pode ser entendida como sendo um estado altamente focalizado de atenção, onde dependendo da comunicação do paciente com ele mesmo, ou deste com o hipnotista, haverá ocorrência de um ou mais fenômenos ditos hipnóticos em diferentes níveis, aqui definidos: hipermnésia é lembrar-se de algo de uma forma muito rica em detalhes, amnésia é o esquecer fatos parcial ou totalmente, espontaneamente ou não; anestesia é o não sentir alguma parte do corpo ou ele inteiro, analgesia é a sensação de dormência em pelo menos alguma parte do corpo (fenômenos estes muito utilizados no trabalho com dor), hiperestesia é o aumento de sensibilidade de alguma parte do corpo; alucinação positiva é ver, ouvir, ter tato, gustação e/ou olfação de algo que não existe, alucinação negativa é não ver, ouvir, sentir em termos de tato, gustação e/ou olfação algo que existe; sugestão pré-hipnótica é a sugestão que se dá antes da indução do transe, de forma que o sugerido ocorra uma vez que se esteja hipnotizado, sugestão pós-hipnótica é a que se dá em transe para que ocorra após este; regressão de idade é reviver alguma idade anterior em um momento específico, no qual a pessoa hipnotizada se comporta, pensa e reage como na idade em questão, progressão de idade (ou pseudo-orientação no tempo) é a ida a alguma parte do futuro que a pessoa no presente, de forma consciente ou não, acredita que acontecerá (de forma alguma isto está ligado à previsão do futuro); alteração de consciência reflexiva é a maneira como a pessoa vê a si mesma; associação, aqui entendida como sendo a criação de elos que podem se dar entre elementos como cachorro e medo, dissociação que pode se dar entre elementos como a cor azul e a palavra azul, ou ainda, a dissociação de sistemas, que seria como fazer uma prova e estar se divertindo numa praia sem que um sistema de raciocínio esteja ciente do outro (este é um caso real de Milton H. Erickson: um indivíduo fez a prova mas achava que estava na praia, tendo sido esta situação provocada por uma sugestão pós-hipnótica), a associação de sistemas seria a reintegração destes dois eventos; catalepsia é a permanência de pelo menos alguma parte do corpo em determinada posição por muito tempo; distorção do tempo divide-se em dois: condensação do tempo que é, por exemplo, a impressão de ter passado 10 minutos quando na realidade se passou três horas, expansão do tempo é, por exemplo, a impressão de ter passado 3 horas quando na realidade se passou 10 minutos. Pôde-se perceber portanto, que alguns fenômenos são cotidianos enquanto outros não, podendo ocorrerem simultaneamente ou não.
Podemos pensar em algumas vertentes no uso da hipnose hoje em dia, a primeira e a mais antiga seria a dita Hipnose Clássica, esta pode ser entendida como sendo um mero instrumento usado de acordo com a abordagem teórica do psicoterapeuta ou hipnotista; seja para a psicoterapia, anestesia ou para fins de pesquisa; uma outra seria a Hipnoterapia de Milton H. Erickson (1901-1980), quem foi sem a menor dúvida, o maior inovador do uso da hipnose no século XX. Este médico americano desenvolveu inúmeras diferentes técnicas e posturas para lidar com as mais variadas situações, desde uma simples dor e fobia à psicoterapia com esquizofrênicos; e uma outra, seria a Hipnoterapia Educativa, que tem como intenção dar um corpo teórico para as intervenções de Erickson, assim como dar espaço para a expansão aos potenciais destes fenômenos da psique e do corpo dos seres humanos.
“Entendo minhas intervenções como aprendizagens”, estas palavras de Erickson repetidas por Jeffrey K. Zeig Ph. D. (um dos seus maiores discípulos), deram origem ao que chamo de Hipnoterapia Educativa, que nasceu de questionamentos como: o que é aprender? Que órgãos do ser humano possibilitam aprendizagens? Como estão eles relacionados com a mente/ psique? Quando começamos a aprender? Quais são as relações de aprendizagem com pensamento e razão? A área do saber humano que tem por função provocar aprendizagem é a educação, mas o que é educação? Uma vez sabido o que é educação, qual a melhor forma de desenvolvê-la? Qual o conteúdo com o qual se deve educar? Se cada ser humano é um, como educar cada um? Em que direção? Será ético se propor educação em psicoterapia? Alguém consegue realmente educar um ser humano, ou apenas instruí-lo? As respostas que têm surgido destas fecundas perguntas, têm possibilitado um rico entendimento da Hipnoterapia Ericksoniana, assim como novos potenciais.
A Hipnoterapia Educativa tem como visão do Ser Humano, alguém que é fruto e agente de aprendizagens, que somente são possíveis a partir dos órgãos que envolvem a possibilidade delas acontecerem, lidando basicamente com os seguintes conceitos particularmente estabelecidos: pensamento, razão, sentimento, aprendizagem, educação, transe, hipnose, transdução do pensamento no corpo e deste naquele.
Os fenômenos hipnóticos são hoje reconhecidos nas áreas de saúde não enquanto magia ou peculiaridade, mas sim como fenômenos que acontecem em maior ou menor intensidade e em uma ou mais variedades nos seres humanos, sendo cada vez melhor compreendidos, dão espaço para mais eficientes e lúcidos usos.
Bayard Velloso Galvão – Hipnólogo